eu perdi a habilidade de me transformar em verbo de me pôr em palavra existe um muro um nada um oco que ecoa angústia as vezes eu penso em erguer bandeira branca sair do espaço e deixar a casa inteira pra ela existe um nó amontoado bem embaixo da minha garganta ele se forma quando eu vou dormir e meu estômago contrai todas as noites eu tento puxar mas ele trava bem na minha goela e não sai nada apenas o eco

eu não quero ser mais um dos seus pássaros feridos quero sair voando da sua coleção fiquei tanto tempo aqui que não percebi que estive guardada no meio dos animais empalhados minha asa não está 100% talvez eu morra ao sair voando mundo a fora a sua presença disfarça a…

o rasgo do casulo é só questão de tempo pra que as flores mortas se decomponham pra que das flores mortas venha algo ainda mais bonito do que flores vivas das flores mortas, o que um dia representa luto adentra o solo, nutrindo-o e renasce em forma de broto flores morrem rápido nem acabou o verão e elas já se foram tulipas ficam marrom e cinza no fundo, você sempre soube das cinzas a algo muito maior

quem matou as flores do meu jardim? eu cuidei de cada semente nutri um solo que já estava morto seco. desertificado. eu dei do meu sangue, dei da água que corre no meu corpo arranquei cada erva daninha com minhas mãos feridas demorou tanto… tanto tempo e eu estava tão feliz quando um único broto nasceu adubei com meu leite com meus pedaços eu cantei pras flores desabrocharem acampei no quintal pra não perder nem um segundo

as vezes eu só queria ser mais uma por mais irônico que pareça já que o choque e os holofotes são tão procurados eu só queria sorrir e acenar sem opiniões, críticas e reflexões profundas sobre tudo que está de cabeça pra baixo me sinto mais segura assim como que aconchegada num ninho de animais que não são sequer do meu tamanho da minha espécie eu sei, eu me decepo em nome da omissão e da neutralidade

só. meu choro alto meu corpo clivado e a vista turva enquanto minhas mãos bambeiam no volante meus gritos entrecortados por soluços inaudíveis nem a lua me acompanha hoje meus cortes no quadril me lembram que o externo nunca foi lar pra mim eu sempre tive que haver com essa…

você me deixou do avesso vivendo e sentindo no sentido contrário à tudo aquilo que eu construí até aqui se é que eu construí alguma coisa tem um sentimento pulsante aquela sensação de que sou incorrigível inconsertavel herege quase um caso perdido honestamente, nada está fazendo sentido hoje eu queria…

não quero ser um poço de previsibilidade um teatro que passa a mesma peça a cada 6 meses eu não acredito em destino mas eu sinto que já está escrito nas estrelas, nas paredes do inferno, cada cretino que adentrará o meu caminho eu so aguardo o tempo passar, bebo…

eu odeio você odeio as marcas que você deixou em mim as pegadas cravadas no buraco do meu coração odeio a ferida inflamada que você causou embaixo da minha pele escondida debaixo dos meus seios de mulher por baixo do caule despencado o jeito que você me olhou enquanto eu…